MÉTODOS PARA ALFABETIZAR: MAGDA BECKER SOARES


24/01/2019

MÉTODOS PARA ALFABETIZAR: MAGDA BECKER SOARES

“É  preciso ter vários métodos para alfabetizar”, afirma especialista

Aos 84 anos, Magda Becker Soares, maior referência brasileira sobre alfabetização, destrincha vários aspectos do tema em seu mais recente livro

Em 2009, ao identificar a carência de materiais em formato de revista para formadores de alfabetizadores, fui a Belo Horizonte propor à professora Magda Becker Soares, a quem já havia entrevistado algumas vezes, que coordenasse dois números especiais sobre o tema para a revista Educação.

Depois de uma reunião de uma hora e meia com docentes do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, órgão criado por ela, havíamos discutido, desenhado, dividido em capítulos e listado autores para os dois números. Magda, então, foi a voz que enfatizou a importância da parceria entre Ceale, que faria 25 anos em 2010, e Editora Segmento. Depois disso 

passou a bola para as professoras Aparecida Paiva e Sara Mourão darem continuidade ao projeto por parte do Ceale.

Ela própria, ainda que tenha participado com um artigo, estava com a mente voltada a um projeto que iria ocupá-la a partir de 2011: a escrita de um livro que mergulhasse em toda sua trajetória intelectual relativa ao entendimento da faceta linguística na inserção do mundo da escrita. Traduza-se por isso o processo de alfabetização, objeto de aprendizagem a que dedicou a vida, desde antes de formar-se em letras neolatinas pela mesma UFMG, em 1954.

Ainda que sua visão sobre a entrada no mundo letrado seja bem mais ampla do que a questão específica da alfabetização – Magda é a introdutora no Brasil do conceito de literacy, o letramento – o tema, em razão do renitente insucesso da educação pública brasileira, remanesceu quase como que uma obsessão para ela.

Por intuir que era muito mais complexo do que a forma como era tratado na formação de professores, em especial na pedagogia, continuou a tentar desvendar suas diversas nuances. Para escrever o livro, batizado de Alfabetização – A questão dos Métodos (Editora Contexto), mergulhou no talvez mais rico conjunto de referências de pesquisa, percorrendo todas as áreas nele envolvidas, dando atenção ao objeto e ao sujeito da aprendizagem, como enfatiza. Mas ainda deixando em aberto as outras duas facetas relativas ao mundo letrado, a interativa e a sociocultural.

Quem sabe, objeto de uma nova obra com a assinatura desta intelectual cuja marca principal parece ser a generosidade. E que continua mais ativa do que nunca aos 84 anos. Numa tarde agradável no início de agosto, ela nos recebeu em sua casa, em Belo Horizonte.

Como nasceu sua preocupação com a questão da alfabetização?

Durante toda a educação básica – primário, ginásio e científico (queria ir para a área de ciências exatas), estudei em escola privada, protestante, metodista. Depois fiz curso de letras e fui dar aula em escola pública, para o ginásio. Levei um susto terrível. Senti na pele a distância que havia entre a escola em que eu tinha estudado e onde dava aulas agora, a diferença de condições, professores, sobretudo de relação dos professores com os alunos. Esse momento representou um rito de passagem na minha vida. Daí em diante, passei a vida por conta da escola pública

Deixei o ensino básico e fui para a universidade, com dedicação exclusiva, o que às vezes é mais um malefício do que um benefício para quem está formando professores. Você forma professores para uma escola da qual está distante, que conhece só pela pesquisa. Mas fiz e orientei pesquisas sobre a língua, sobre problemas de linguagem na escola pública. E fui me convencendo cada vez mais que a questão era o começo da história, a fase de entrada da criança no que podemos chamar de cultura da escrita. E acabei me voltando para essa área inicial.

Quando foi isso?

Comecei a dar aulas um ano antes de me formar, em 1953, dava aulas para ginásio ou em formação de professoras do curso normal. Só fui entrar na universidade em 1960. Fiquei até me aposentar, na véspera de fazer 70 anos. A moça da secretaria me disse que eu já poderia ter me aposentado dez anos antes. Eu disse: “quem falou que eu queria?”.

Nesse período todo, fiquei preocupada com a questão da aprendizagem da língua escrita pelas crianças. Inicialmente, trabalhava só com o curso de letras, depois quis trabalhar também com pedagogia, na disciplina de alfabetização, que conseguimos introduzir. Antes dela, havia na pedagogia uma metodologia da língua portuguesa, um semestre só. Assim, ficamos mais perto de quem ia para a sala de aula na escola pública. Aí veio um interesse grande em alfabetização. Esse livro de agora é resultado disso.

Como sempre fui muito obsessiva por leitura, por estudar, estava sempre a par do que se produzia aqui e no exterior. Ao mesmo tempo, acompanhava o fracasso na alfabetização neste país, que é algo que não se vence nunca. Comecei a ficar impressionada.

É consenso que o professor de qualquer disciplina tem de saber o conteúdo para poder ensiná-lo. Tem de saber história para ensinar história, tem de saber geografia para ensinar geografia, ciências para ensinar ciências. Para alfabetizar, é como se não houvesse algo que se tem de saber. É como se a pessoa, sabendo ler e escrever, soubesse automaticamente alfabetizar. O que não faz sentido.

Na minha visão de linguista, pensava que a língua escrita é um sistema de representação extremamente complexo e que demanda de uma criança de 5, 6, 7, 8 anos habilidades cognitivas muito complexas também, pois trata do entendimento de um sistema de representação bastante abstrato. É preciso representar os sons com sinaizinhos na página, os chamados grafemas, sinais que são também arbitrários. Por que um desenho de B vai representar o fonema |B|? Ou seja, o objeto em si é complicado. E, portanto, as habilidades cognitivas que a criança precisa para compreender e dominar esse sistema são também complexas e dependem do processo de desenvolvimento dela.

Veja o artigo completo aqui

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2 comentários:

  1. Unknown02 fevereiro, 2019Gostaria de ler seu livro Alfabetizacao, não trabalho na área,mas sou louca por Letras e Pedagogia, meu sonho fazer uma dessas Faculdades.
    Responder
  2. Arlem07 maio, 2019Gostei!!! muito bom!!!Responder
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