O processo de alfabetização é muito mais complexo do que se imagina, pois é daí que se se inicia a leitura do mundo e para se alfabetizar usam-se métodos como o tradicional, o analítico, o sintético e ou construtivista. Alfabetizar não é apenas ensinar a ler e escrever através de um método ou de uma cartilha, alfabetizar é formar alunos críticos e capazes de interagir na sociedade, propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendam de forma consciente e consistente os mecanismos de apropriação de conhecimentos. Assim como a de possibilitar que os alunos atuem, criticamente em seu espaço social.
Geralmente o método de alfabetização por meio de cartilhas, é feito por etapas exigindo que os alunos a sigam rigorosamente, de acordo com sua ordem, usando palavras chaves, e sílabas geradoras, ou seja, o famoso método do “bá-bé-bi-bó-bu”. Cada capítulo da cartilha apresenta uma unidade silábica, as lições são organizadas do mais fácil para o mais difícil e finaliza com um texto que resume tudo o que a mesma tentou ensinar.
Trataremos neste artigo sobre quatro métodos de alfabetização, que são os métodos: tradicional que abrange o sintético e analítico e o método construtivista. As cartilhas chamadas de métodos construtivistas tendem a conter o ensino mais claro e objetivo, pois trata o aluno como um ser pensante e ativo no processo de alfabetização. Ou seja, estimulando o aluno a pensar e agir por si próprio, esta cartilha não se preocupa com a perfeição da ortografia, não se prende a escrita, e sim, com a interação no seu aprendizado, sendo um aluno participativo e crítico.
Já o método tradicional, tem seu ensino baseado na ortografia perfeita, ensinada através de regras gramaticais, confundindo ainda mais a aprendizagem do aluno e deixando às vezes seus textos escritos de forma ortograficamente correta, porém sem sentido. A cartilha de método tradicional cria seus próprios ideais, que o aluno tem por obrigação segui-los, aprendendo uma lição após a outra, até que se conclua toda a etapa.
Percebe-se o quanto é confuso e difícil à aprendizagem por meio do uso de cartilhas, pois por mais que as mesas sejam consideradas método construtivista ela sempre terá alguma atividade do método tradicional desestabilizando o processo de aprendizagem da criança. Não existe uma cartilha cem por cento tradicional e ou construtivista, ela sempre será mista.
Esse recurso didático tende a absorver e centralizar o trabalho de alfabetização na medida em que essa prática se encontra pautada e direcionada pelo uso da cartilha, tornando duradoura a concepção de ensino de língua escrita que neutraliza a linguagem, não permitindo o trabalho e o processo da leitura e compreensão.
A pesquisadora Jaqueline Moll em seu livro “Alfabetização Possível”, diz que a alfabetização é um processo mecânico, na qual alfabetizar-se’ está vinculado a habilidades de codificação (ou representação escrita de fonemas em grafemas) e decodificação (ou representação oral de grafemas em fonemas). Ou seja, a representação da fala oral em escrita e o inverso, a representação da fala escrita em oral. Tanto a leitura quanto a escrita são vistas como decifração de códigos e símbolos.
Os processos de alfabetização nos dias atuais persistem na repetição excessiva de exercícios visando à memorização de letras, silabas para formação de palavras, frases e textos, e a assimilação da criança, de que há uma ligação correspondente entre fala e a escrita.
Alfabetização é muito mais que decodificação e codificação de códigos, a alfabetização é a relação entre aluno e seu conhecimento de mundo, é primeiramente a leitura que a criança faz para entender o mundo.
O processo de alfabetização se inicia muito antes da criança entrar na escola, pois antes disso ela já possui contato com seu meio social, que lhe permite adquirir conhecimentos como a própria linguagem verbal, entre outros. Enfim, alfabetização é muito mais que aprender ler e escrever, para fazer parte do meio social.
Com a necessidade de saber como se da o processo de aprendizagem de leitura e escrita, surgiram os métodos de alfabetização, que impõe regras que devem ser seguidas pela criança a ser alfabetizada.
Os métodos de alfabetização evoluem fazendo o avanço do conhecimento de acordo com as necessidades sociais, pois com a evolução da sociedade, cada vez mais vai se exigindo um tipo de letrado diferente. E com todas as evoluções surgiram vários métodos de alfabetização como: o método tradicional que incorpora o método sintético e analítico e por fim o método construtivista.
Alguns desses métodos colocam em risco o processo e capacidade de aprendizagem do aluno por passar insegurança tanto para o aluno quanto para os professores, por isso percebe-se, que apesar de ser muito utilizado e de certa forma ter alfabetizado milhões de pessoas, estes métodos de alfabetização consistem na memorização do que é ensinado, trabalhando repetições e colocando em dúvida a qualidade do aprendizado do aluno.
É centrado no professor e tem a função de “vigiar o aluno”, ou seja, observar se o aluno está seguindo a risca o que lhe foi pedido. Esta metodologia tem a concepção de que a aula deve acontecer apenas dentro da sala, em que o professor ensina a matéria, passa os exercícios, e depois a corrige, seguindo os passos rigorosos da matéria e planejamentos, fazendo sempre a mesma coisa, tornando a aula mecanicamente robótica, dando a entender que o aluno só irá aprender através do conhecimento do professor. No método tradicional, o aluno é um ser passivo no aprendizado.
Este tipo de aula faz com que o aluno aprenda através de repetições de exercícios com exigência do uso da memória, levando o mesmo a decorar e não aprender, e como consequência o aluno é desmotivado, fica desinteressado e ou na maioria dos casos adquire problemas e ou transtornos como depressão, estresse, falta de ânimo etc.
O método tradicional tem seu aprendizado de forma dividida, primeiro aprende as vogais, depois as sílabas até chegar às palavras inteiras e as frases, para daí por diante construir textos. Neste método o que importa é a montagem silábica e não a construção de frases, fazendo com que o aluno só consiga produzir textos depois de dominar boa parte da família silábica e o processo de formação das palavras, criando textos sem sentidos, pois o aluno nesse momento está preocupado com a escrita ortográfica e não com o sentido lógico do seu texto.
Há uma valorização maior no uso das cartilhas e uma preocupação com a quantidade, esquecendo assim da qualidade. O professor fala o aluno ouve e aprende. Como mencionei anteriormente, o aluno não é um ser participativo na construção de sua própria aprendizagem, não levando em consideração o que a criança aprende fora da escola, seus esforços espontâneos, a construção coletiva, e o que é pior, muitas vezes, o meio social o conhecimento de mundo que o aluno trás de fora para dentro da escola é totalmente ignorado.
No método tradicional a grande maioria das atividades e propostas é baseada em cartilhas, os textos para leitura são curtos com frases simples desvinculados da linguagem oral, buscam o uso das sílabas já estudadas. Raramente usam materiais extras, como revistas, jornais, livros de história e músicas e o lúdico por assim dizer é deixado de lado como ferramenta pedagógica.
Este método sobrecarrega o aluno com tantas informações, que muitas vezes os mesmos não conseguem filtrá-las e ou compreendê-las, tornando o processo de aquisição do conhecimento muito mais exaustivo, e sem significação, sempre mantendo uma postura conservadora. O seu processo de alfabetização, apoia-se nas técnicas de codificar e decodificar da escrita. A escrita da criança em fase de alfabetização não é levada em conta, sendo a cartilha sequencialmente seguida, formando assim a base do processo de alfabetização.
O método tradicional de alfabetização procura desenvolver as habilidades básicas que a criança deve ter para tornar-se um leitor habilidoso. Porém, somente a presença destas habilidades não garantem sua utilização em tarefas mais complexas, como a leitura de um livro, a escrita de um poema, ou mesmo a execução correta de uma simples receita culinária por exemplo.
O método sintético é estruturado dentro da teoria do behaviorismo, e é considerado um dos mais rápidos, simples e antigos métodos de alfabetização, podendo ser aplicado a qualquer tipo de criança. Fundamenta-se num diálogo entre o oral e o escrito, entre o som e a grafia. Geralmente se inicia em um grau de dificuldade mais simples percorrendo até chegar a um mais complexo, ou seja, o sistema de ensino parte das partes para um todo.
A criança para iniciar nesse método de alfabetização, primeiro terá de dominar o alfabeto (letra por letra), depois as sílabas, as palavras, frases e finalmente os textos. E este método não permite que a criança prossiga para uma nova fase se não dominar a que está. O método sintético, foca seu ensino em ler letra por letra, ou sílaba por sílaba, palavra por palavra, acarretando em pausas durante a leitura “Trabalhando a rima, a acentuação da sílaba mais forte e o ritmo fonético de cada sílaba” Porém pode motivar o cansaço e prejudicar o ritmo e a compreensão da leitura.
Baseando-se no ponto de vista mental, o indivíduo é capaz de perceber os símbolos gráficos de uma forma geral, ou melhor, como um todo, dando-lhes significados, para posteriormente ser capaz de analisar suas partes. O método sintético leva o aluno a perceber partes isoladas, sem significação, impedindo sua compreensão e percepção da leitura.
A aprendizagem pelo método sintético, é feita através da memorização e repetição, de certa forma acaba prejudicando o aluno, pois impede que ele consiga pensar e agir por si próprio, ou melhor, de produzir seus textos e seus conhecimentos através de sua imaginação, pois o mesmo é alfabetizado por regras que devem ser seguidas passo-a-passo. O Professor traz um conhecimento pronto faltando apenas por em prática. Com isso, o aluno tem dificuldades de compreender e criar textos, o prazer pela leitura dura pouco, porque logo o aluno consegue dominar a leitura e a escrita deixando de ser algo novo em sua vida, o método oferece um vocabulário pobre e restrito e considera a língua escrita um objeto de conhecimento externo ao aprendiz, porém, podemos encontrar alguns conceitos positivos, como os de alunos adquirem a ortografia perfeita por ser um ensino de regras e repetições, o aluno consegue com o tempo fazer sua tarefa sozinho, e por fim, permitir a compreensão da língua.
O método analítico se desenvolve a partir da teoria do “sincretismo infantil” que foi fundamentado pela teoria da gestalt, e acredita que a aprendizagem se dá pela percepção e compreensão.
O método analítico tem por objetivo, fazer com que as crianças compreendam o sentido de um texto, não ensina a leitura através da silabação, o método incentiva os alunos a produção de textos prestando atenção ao uso da pontuação, estimula a leitura e deixa o aluno à vontade para expor suas ideias. Este método ajuda a criança no desenvolvimento e organização de seus pensamentos.
Do ponto de vista linguístico, neste método o ensino deve começar por um nível menos complexo, para aos poucos ir alcançando um nível mais avançado, pois a língua falada é bem diferente da língua escrita e a criança no inicio de sua aprendizagem se baseia na língua falada para desenvolver a língua escrita e isso faz com que as mesmas se confundam.
Partindo do ponto de vista mental, o método analítico é um método constituído por palavração (leitura de palavra por palavra), e que assim como os métodos tradicionais e sintéticos trabalham com elementos isolados, o que não favorece para a compreensão de um texto, tornando-se cansativo e desestimulante, por impedir que a criança não compreenda o texto como um todo e sim dividido.
O método construtivista é um dos mais indicados e usados para alfabetização, por permitir que a própria criança construa seus conhecimentos de acordo com seu desenvolvimento cognitivo, pode ser aplicado de forma individual ou coletiva, trabalha com o conhecimento que a criança traz para escola, faz a união da língua falada, escrita e a leitura em um único processo, e pode ser aplicado a qualquer criança, método em que a criança se sentirá mais segura e será capaz de criar seu próprio conhecimento tornando-se um aluno consciente e responsável.
O método construtivista baseia-se nas pesquisas de Jean Piaget, sobre a construção do conhecimento, afirmando que este é o resultado da construção do próprio indivíduo. Essas conclusões são derivadas das suas pesquisas sobre “a origem e evolução da inteligência” que também se constrói na interação do sujeito com o mundo, considerando os fatores biológicos, experiências físicas, a troca social, e os processos de equilíbrio e desequilíbrio.
A aprendizagem e a aquisição de conhecimento da criança começam muito antes da aprendizagem escolar, a criança antes de entrar na escola já possui alguns conhecimentos como, por exemplo, a linguagem verbal. Toda aprendizagem na escola tem uma pré-história, a atividade de criar é uma manifestação exclusiva do ser humano que tem a capacidade de criar algo novo a partir de um conhecimento já existente. Através da memória o ser humano pode imaginar situações futuras e formar outras imagens a partir dela. Com isso, ação de criar deixa clara que o indivíduo pode e deve sempre estar criando algo novo a partir de seus conhecimentos pré-existentes, buscando através do imaginário e da fantasia, um equilíbrio, bem como a construção de algo novo. E é nisso que o método construtivista consiste em o aluno construir seu próprio conhecimento. Do ponto de vista linguístico o construtivismo deixa claro que para se aprender algo tem que praticar. Ou seja, para aprender a ler tem que ler e a escrever tem que escrever, para isso não é necessário a utilização de métodos, por exemplo, para aprendemos a falar não tivemos que seguir um método, para ler e escrever não deve ser diferente.
O método construtivista possui muitas vantagens, pois incentiva a criança a expressar o que sente, estimula a criatividade e a escrever e falar o que pensa, desperta a curiosidade e leva o aluno a buscar soluções para resolução de seus problemas, tornando-o um aluno autônimo, critico e capaz de responder pelos seus atos, estimula também o ato da leitura e escrita, trabalha com a língua escrita com todas as dificuldades que nela existe a partir da produção de texto do próprio aluno, no processo de aprendizagem da escrita não exige a ortografia e a sintaxe perfeita, dá valor à interação dos alunos em grupo, enfim, o método construtivista, não tem uma regra básica a ser seguida, pois parte da ideologia do mesmo se baseia na vivência de vida que o aluno trás para escola.
Escrever é diferente de falar, o aprendizado da escrita requer tempo, treino, paciência e maturidade. As crianças quando vão para escola já trazem consigo muitas coisas sobre o sistema da comunicação verbal, e isso ajuda em muito no seu aprendizado da escrita. Uma das tarefas principais da alfabetização é ensinar o aluno a escrever, e a escrita passa a ser algo novo na vida da criança, por isso se deve ter uma atenção especial nesta fase de descoberta onde a criança aprende a decodificar símbolos em forma de palavras, não dando atenção para a forma ortográfica da escrita, e sim, ao modo de como a criança escreve.
A leitura tem um objetivo que é a compreensão do leitor, além de aumentar o vocabulário da criança e o objetivo da escrita é a comunicação, que dá acesso a este vocabulário. Escrita e Leitura estão ligados um ao outro, ou melhor, um depende do outro, porém a sua forma de uso é diferente.
As formas de escrita são diversas, ela possui inúmeras grafias, o que pode acarretar em confusão inicial na aprendizagem da criança, pois de uma para outra há uma diferença considerável, e para que não se tenha este tipo de problema na aprendizagem do aluno é muito importante que o alfabetizador esteja atendo, preparado e seguro.
Citando Cagliari em seu livro “Alfabetização & Linguística”, “A escrita tem como objetivo a leitura. A leitura tem como objetivo a fala. A fala é a expressão linguística e se compõe de unidades, de tamanho variável, chamadas signo se que se caracterizam em sua essência pela união de um significado a um significante”. Os sistemas de escrita podem ser divididos em dois, o primeiro em escrita ideográfica que se baseia no significado e o segundo em escrita fonográfica que é o sistema de escrita baseado no significante.
O sistema de escrita que se baseia no significado para ser entendido depende da formação sociocultural do individuo, pois é através desse conhecimento que ele conseguirá decifrar a ideia ou mensagem que o sistema estará tentando passar. Esses sistemas são representados por sinais de transito, logotipos e logomarcas de empresas e produtos, são também obras de artes, música entre outros, e é por isso que sua decifração depende da formação socio cultural, pois cada um pode interpretar de uma forma diferente.
Já ó sistema baseado no significante para ser decifrado depende exclusivamente do elemento sonoro de uma língua, dependendo da língua padrão que se fala. Os sistemas de escrita possuem sons de uma língua, e como já sabemos nossa língua vive em constante mudança, e com isso a forma de pronuncia a forma fônica (Som da Palavra) muda, e assim como ela vai perdendo seu uso, vai ficando difícil de entendê-la.
Os dois tipos de escrita exigem certa habilidade do leitor, a escrita ideográfica para ser entendia exige a habilidade lexical, e a escrita fonográfica exigem a interpretação semântica.
Aprender é um ato individual de cada aluno, aprender de acordo com o seu metabolismo intelectual e ordenada pelo aluno de acordo com sua história de vida. Aprender não é repetir algo semelhante, e sim criar algo novo, ou seja, a repetição de um modelo já pronto não é uma aprendizagem, e sim uma cópia.
É fundamental que o professor respeite o ritmo de aprendizagem de cada aluno, sendo extremamente necessário buscar estratégias que venham melhorar o desempenho daqueles que apresentam evolução mais lenta.
Artigo > Prof. Marcos L Souza
Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
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