Avaliação: Observação, registro, reflexão e intervenção pedagógica.
Ser educador é gestar em si a sensibilidade pedagógica da inconformidade, da inconcretude, lançando-se na empreitada de não se contentar com as explicações fáceis, superficiais e com a rotina mecânica que ofusca, muitas vezes, a criticidade e a criatividade” (SILVA, 2004, p.17)
As palavras acima são um convite à reflexão sobre o papel desempenhado
pelos professores, frente aos muitos desafios que se apresentam no cotidiano escolar.
Dentre esses desafios, a grande responsabilidade que emerge do processo avaliativo,
na perspectiva da avaliação formativa: o compromisso com a aprendizagem e com o
desenvolvimento de todos os alunos.
Assim, avaliar o aluno, assumindo o compromisso com a sua aprendizagem,
implica conhecê-lo. E, para isso, é preciso observá-lo. A observação atenta e reflexiva
é, portanto, um dos procedimentos fundamentais para a prática avaliativa formativa,
e ocorre durante a rotina de trabalho desenvolvida pelo professor com e para os
alunos, nos diversos tempos e espaços escolares.
Mas, como observar cada aluno, diante da dinâmica intensa que se faz presente
nesses diferentes espaços que, em seu conjunto, são ambientes de aprendizagem? – Forneiro (1998) atribuiu à sala de aula uma dimensão mais ampla, entendendo que todo o
espaço escolar é um ambiente de aprendizagem.
Uma boa estratégia é fazê-lo diariamente, a partir de pequenos grupos de cada
vez ou de acordo com a necessidade individual.
Entretanto, considerando-se as limitações próprias da memória humana, para que
essas observações possam subsidiar o processo avaliativo, é necessário que elas
sejam registradas.
A esse respeito, Villas Boas (2004) apresenta algumas orientações:
• “Onde registrar? Estas anotações podem ser feitas em um caderno cujas
folhas possam ser acrescentadas ou retiradas, facilitando assim a inclusão de
novas informações.
Que quantidade de anotações deve ser feita? O importante não é a
quantidade de informações registradas, mas sim, a sua utilidade para o
professor. O exercício desta prática conduzirá à seleção das situações, frases,
ou fatos mais relevantes e que merecem serem registrados.
• O que anotar? As anotações devem ser contextualizadas, ou seja, devem
constar a data, o horário e a situação em que tal fato ocorreu.
• Como anotar? O que foi visto e ouvido é anotado sem interpretações ou
julgamentos. O objetivo dos registros das observações é a construção do
retrato do aluno. As interpretações serão realizadas posteriormente.
• Quando anotar? Estas anotações poderão ser feitas a partir de um
planejamento prévio da observação, ou ainda realizadas espontaneamente,
quando algo interessante acontecer.
• Comentários sobre as necessidades individuais: Enquanto nos outros itens
as anotações se referem ao que foi observado, este espaço é destinado a
registros acerca do “significado do que foi observado, das preocupações e
ações a serem desenvolvidas. Esses comentários referem-se às necessidades
individuais dos alunos. Por exemplo: Isto tem acontecido sempre que ele chega
atrasado. Conversar com ele para saber a razão constante dos atrasos.”
(VILLAS BOAS, 2004, p.101).
As observações realizadas e registradas possibilitam ao professor refletir sobre
as situações evidenciadas. Algumas questões podem orientar essa reflexão, tais
como:
• Que conquistas o aluno demonstrou nesse período, em relação às
expectativas de aprendizagem propostas?
• Que aspectos ainda necessitam ser trabalhados para que ele alcance as
expectativas de aprendizagem propostas?
• Quais foram as intervenções realizadas no sentido de auxiliá-lo na
superação de suas necessidades?
• Como o aluno respondeu a essas intervenções?
• Que outras providências podem ser tomadas para auxiliá-lo?
Certamente, outras questões poderão ser somadas a essas, tendo em vista
outros aspectos que o professor julgue necessários para as suas reflexões e para a
promoção de melhores condições de aprendizagem para o seu aluno.
As anotações das observações realizadas, juntamente com a análise e com a
reflexão a respeito de outros instrumentos de avaliação utilizados, permitem ao
professor identificar as necessidades e potencialidades do aluno, considerando
sempre, o caráter provisório do conhecimento.
Essa postura investigativa, reflexiva e respeitosa, acerca do processo de
aprendizagem do aluno, será uma forte aliada do professor, uma vez que lhe fornecerá
elementos para a reflexão da sua intervenção pedagógica e para a reorganização do
seu trabalho.
A articulação da observação, da reflexão e da intervenção pedagógica fornece
elementos para o preenchimento do Registro de Avaliação, instrumento de registro
individual de avaliação das aprendizagens e do desenvolvimento do aluno.
Como já apresentado no início deste documento, o Registro de Avaliação é
um instrumento individual de avaliação das aprendizagens e do desenvolvimento do
aluno das séries/anos iniciais do ensino fundamental. É composto por expectativas de
aprendizagens descritas para cada ano de escolarização, as quais dizem respeito aos
componentes curriculares propostos pelas Orientações Curriculares do Ensino
Fundamental Séries e Anos Iniciais (2009).
O Registro de Avaliação oferece informações sobre o processo de
aprendizagem do aluno e a organização do trabalho pedagógico do professor. É
fundamental para a construção do Registro de Avaliação a articulação entre a
observação, a reflexão e a intervenção pedagógica.
Para a sua utilização deve-se levar em conta a singularidade de cada aluno, de
maneira que o que for registrado reflita a história da construção da aprendizagem e do
seu desenvolvimento em determinado período.
Para realizar a avaliação das aprendizagens do aluno, o professor precisa usar
diferentes instrumentos avaliativos, tais como a ficha, o relatório individual, o portfólio
ou o dossiê, contendo registros sobre as produções (trabalhos, produções individuais
ou grupais) do aluno, os registros das observações que realizar, assim como outros
documentos de que dispuser e que dizem respeito à trajetória do aluno na instituição
educacional.
Aliada ao uso desses instrumentos está a avaliação informal, que segundo
Freitas (1995), se constitui nos relacionamentos entre os professores e os alunos. A
esse respeito, o autor destaca que:
(…) o juízo que o professor faz do aluno afeta suas práticas em sala
de aula e sua interação com esse aluno. Baseado em alguns
elementos objetivos, o professor constrói todo um processo interno
de análise cuja manifestação final é a nota ou o conceito. Esse
processo leva em conta sua memória sobre o aluno, em área como o
desempenho no conteúdo, sua disciplina e motivação para o estudo
e envolve aspectos ideológicos-conscientemente ou não. (p.262).
A avaliação informal está presente nos registros que o professor faz do
processo de aprendizagem dos alunos. Entretanto, nem sempre é prevista, os alunos
não sabem que estão sendo avaliados. Por isso, Villa Boas (2004) afirma que ela deve
ser desenvolvida com ética e responsabilidade, tendo em vista que essa avaliação
também refletirá na construção da auto-imagem e do autoconceito dos alunos.
A propósito, a autora acrescenta, ainda, que a avaliação informal é usada de
maneira positiva quando os alunos são encorajados e não desmotivados ou expostos
a críticas. Esse encorajamento pode acontecer quando o professor:
Dá ao aluno a orientação de que ele necessita, no exato momento dessa
necessidade; manifesta paciência, respeito e carinho ao atender as suas
dúvidas; providencia os materiais necessários à aprendizagem;
demonstra interesse pela aprendizagem de cada um; atende a todos com
a mesma cortesia e o mesmo interesse, sem demonstrar preferência;
elogia o alcance dos objetivos da aprendizagem; não penaliza o aluno
pelas aprendizagens ainda não adquiridas, mas ao contrário, usa essas
situações para dar mais atenção ao aluno, para que ele realmente
aprenda; não usa rótulos nem apelidos que humilhem ou desprezem os
alunos; não comenta em voz alta suas dificuldades ou fraquezas; não faz
comparações; não usa gestos nem olhares de desagrado em relação á
aprendizagem. (p.24).
.
É possível afirmar, com isso, a necessidade do “olhar” atento do professor ao
trabalho pedagógico e a toda dinâmica educativa, afinal a avaliação acontece nas
diferentes atividades educativas.
Esses aspectos referentes à avaliação informal devem ser considerados na
utilização do Registro de Avaliação. Além disso, será relevante que o professor
observe no ano/série em que está atuando, as expectativas de aprendizagem que
foram trabalhadas e como foi o desempenho de cada aluno no decorrer do bimestre.
Para tanto, ao final desse período, o professor indicará um conceito, dos três
apresentados a seguir, que corresponda ao desenvolvimento do aluno em relação à
expectativa da aprendizagem em questão.
Esse campo compõe o Registro de Avaliação e se destina ao registro
descritivo sintético das conquistas e das dificuldades apresentadas pelo aluno
ao longo do bimestre, considerando o conceito final atribuído em cada componente
curricular. Nele, o professor deverá relatar os aspectos que determinaram o conceito
final quando marcado como Parcialmente Satisfatório ou Não Trabalhado, citando os
conteúdos não aprendido no bimestre. Será fundamental, ainda, explicar as
intervenções pedagógicas propostas pelo professor para possibilitar a aprendizagem
do aluno em questão.
– Adjetivos comparativos – Maria é a mais levada.
– Adjetivos superlativos – Joana é levadíssima.
– Palavras significando extremo, advérbios de intensidade – José nunca faz…
– Julgamentos que devem ser aferidos por especialistas de áreas específicas–
Sônia é hiperativa.
– Generalizações – Laura tem dificuldade na aquisição de conhecimentos.
– Remetem a situações conclusivas negativamente – João não sabe. Flávia não
consegue. (SEDF, s/d)
Essa postura se distancia da finalidade da avaliação formativa, uma vez que
esta rejeita procedimentos dessa natureza, por não propiciarem condições de
aprendizagem e desenvolvimento para os alunos e podem induzir à criação de rótulos
e preconceitos (VILLAS BOAS, 2004)
O processo avaliativo no contexto do trabalho pedagógico reivindica ser
conduzido com ética, como dito antes. Para tanto, é necessário que seja um ato de
acolhimento e não de exclusão; de valorização e de potencialização das
aprendizagens e não de exposição. (ESTEBAN, 2003; LUCKESI, 2003, VILLAS
BOAS, 2004).
Os instrumentos e procedimentos de avaliação, quando utilizados na
perspectiva da avaliação formativa, instituem um trabalho educativo pautado no
exercício permanente de investigação do professor a respeito das necessidades
educativas dos alunos e das práticas que desenvolvem com eles.
Entretanto, é importante ressaltar: o que faz a avaliação ser formativa não é a
utilização ou não de determinado instrumento. Segundo Villas Boas (2006), o que faz
a avaliação ser formativa é a prática do professor.
É relevante, portanto, o envolvimento de toda a equipe escolar no sentido de
fazer da avaliação uma prática a favor da aprendizagem de todos os alunos,
contribuindo para “proporcionar educação de qualidade, que não somente leve a termo
a análise de rendimento escolar, mas sim alternativas de superação das
desigualdades sociais” (SEDF, 2009, p.9). Afinal, “qualidade para poucos não é
qualidade, é privilégio.” (GENTILI, 2002, p.176).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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currículo e avaliação. São Paulo: Cortez, 2003. (Série cultura, memória e currículo, v.
5).
FREITAS, Luiz Carlos de. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da
didática. 7ª ed.Campinas, SP: Papirus, 1995. (Coleção Magistério: Formação e
Trabalho Pedagógico).
FORNEIRO, Lina Iglesias. A organização dos espaços na educação infantil. In
ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Trad. Beatriz Affonso Neves.
Porto Alegre: Artmed, 1998.
GENTILI, Pablo; SILVA, Tomaz Tadeu da (Orgs.).O discurso da “qualidade” como
nova retórica conservadora no campo educacional” Trad. Vânia Paganini Thurler.In:
Neoliberalismo, qualidade total e educação: visões críticas. 11ª. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2002.
GODOI, Elisandra Girardelli.Educação Infantil: avaliação escolar antecipada?
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de
Educação, Mestrado em Educação, 2000.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e
reflexivo sobre a criança. 10a
. ed Porto Alegre: Mediação, 2000.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando
conceitos e recriando a prática. Salvador: Malabares, 2003.
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DF/Subsecretaria de Educação
Básica. A construção do Relatório de Desenvolvimento Individual do Aluno. Brasília,
DF, s/d.
_____________Subsecretaria de Educação Básica. Diretrizes de avaliação para a
Educação Básica. Brasília, DF, 2008.
SILVA, Janssen Felipe da. Avaliação na perspectiva formativa-reguladora:
pressupostos teóricos e práticos.Porto Alegre: Mediação, 2004.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico.
2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2004. (Coleção Magistério: Formação e trabalho
pedagógico).
____________ A avaliação no bloco inicial de alfabetização no DF. Disponível em
http://www.anped.org.br/ GT13-1708 em 01/12/2006.
____________Virando a escola pelo avesso por meio da avaliação. Campinas, SP:
Papirus, 2008. (Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico).
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO
SUBSECRETARIA DE GESTÃO PEDAGÓGICA E INCLUSÃO EDUCACIONAL
DIRETORIA DE EXECUÇÃO DE POLÍTICAS E PLANOS EDUCACIONAIS